O Impulso Estético (1) – O custo de vida
Nestes dias de festa programada e consumismo assumido em que, quer queiramos quer não, acabamos por entrar no jogo, é talvez a altura ideal para meditar sobre certas coisas que compõem a nossa vida.
O burburinho da civilização levou-nos a viver rodeados de coisas que nos confortam a existência ou nem isso, mas que somos levados a ter porque, por pressão directa ou indirecta da sociedade, parece mal não termos. Não é que muitas delas não sejam úteis, o problema é a sua sobrevalorização! Além das coisas que são simplesmente sumptuárias ou nos amaciam o ego e nem deviam ser consideradas, mesmo o que nos facilita a existência foi colocado num pedestal e substitui hoje em dia a densidade intrínseca das pessoas. Dizerem-me que ela tem um vestido feito por A ou B ou que ele tem um roupeiro cheio de peças da marca X não diz nada sobre ninguém!
Não me interpretem mal! Não sou nenhum ecologista radical que pensa que devíamos viver em refúgios nas rochas e sermos novamente presas e não predadores para não perturbarmos o livre curso da natureza. Eu, consumista, me confesso. E adoro os meus gadjets e os meus DVD’s e os meus Cd’s e os meus livros e a minha X-Box e o meu automóvel e… Simplesmente acho que muitos de nós foram longe demais e substituíram todo um lado metafísico pelos bens materiais. Não há aqui qualquer sentido religioso na expressão – mas a vida não se resume às festas a que podemos ir, à roupa que podemos comprar ou ao automóvel que podemos ter. Tudo isto pode ser importante para uns e para outros, mas não ser exacerbado ou conquistar o todo quando devia ser apenas a parte.
Então e tudo aquilo que é intangível, como a amizade, o amor, o ódio (às vezes são parecidos) e a paixão, ou transcendente, como o sentido do divino (que não se limita aos cadernos de encargos daquilo a que chamamos religiões) ou o impulso estético, que nos leva a criar e que está na origem de todas as artes (entendidas em sentido lato), de qualquer acto de criação, daquilo que realmente nos diferencia da besta? Onde está o que dá espessura a uma pessoa, que lhe dá identidade e a torna diferente das outras? Somos cada vez mais arquétipos, clones de tipos definidos que repetem os mesmos tiques, os mesmos gestos. Todos usamos as mesmas marcas, temos os mesmos gostos e vamos às mesmas festas.
Se nos despirmos de toda a parafernália que produzimos ao longo de milhares de anos de civilização, o que é que fica? Seremos mesmo mais evoluídos do que os homens que pintaram as paredes de Lascaux? Ou simplesmente iguais? Eles só tinham a pedra das paredes da gruta e eu tenho um computador portátil, não preciso de misturar tintas nem de sujar os dedos e tossir com o fumo dos archotes.
O homem passou a ser verdadeiramente homem quando traçou algo sobre alguma coisa e o admirou pelo que era e não pela utilidade que poderia ter. Neste espaço epigrafado “O Impulso Estético” procuraremos sobretudo pensar, para lá de imediatismos e utilitarismos, sem intelectualites nem outras doenças culturais que tornam o tema uma seca. Não somos ratos de biblioteca nem lemos os clássicos (bem, alguns lemos mesmo…), somos um produto assumido da era da caixa que mudou o mundo, mas nem por isso desistimos de pensar ou nos resignamos a ser mais alguns a engrossar a rave ininterrupta da carneirada. We’ll be back!
Os Diletantes Preguiçosos (email4feedback: kronikastugas@hotmail.com)
O burburinho da civilização levou-nos a viver rodeados de coisas que nos confortam a existência ou nem isso, mas que somos levados a ter porque, por pressão directa ou indirecta da sociedade, parece mal não termos. Não é que muitas delas não sejam úteis, o problema é a sua sobrevalorização! Além das coisas que são simplesmente sumptuárias ou nos amaciam o ego e nem deviam ser consideradas, mesmo o que nos facilita a existência foi colocado num pedestal e substitui hoje em dia a densidade intrínseca das pessoas. Dizerem-me que ela tem um vestido feito por A ou B ou que ele tem um roupeiro cheio de peças da marca X não diz nada sobre ninguém!
Não me interpretem mal! Não sou nenhum ecologista radical que pensa que devíamos viver em refúgios nas rochas e sermos novamente presas e não predadores para não perturbarmos o livre curso da natureza. Eu, consumista, me confesso. E adoro os meus gadjets e os meus DVD’s e os meus Cd’s e os meus livros e a minha X-Box e o meu automóvel e… Simplesmente acho que muitos de nós foram longe demais e substituíram todo um lado metafísico pelos bens materiais. Não há aqui qualquer sentido religioso na expressão – mas a vida não se resume às festas a que podemos ir, à roupa que podemos comprar ou ao automóvel que podemos ter. Tudo isto pode ser importante para uns e para outros, mas não ser exacerbado ou conquistar o todo quando devia ser apenas a parte.
Então e tudo aquilo que é intangível, como a amizade, o amor, o ódio (às vezes são parecidos) e a paixão, ou transcendente, como o sentido do divino (que não se limita aos cadernos de encargos daquilo a que chamamos religiões) ou o impulso estético, que nos leva a criar e que está na origem de todas as artes (entendidas em sentido lato), de qualquer acto de criação, daquilo que realmente nos diferencia da besta? Onde está o que dá espessura a uma pessoa, que lhe dá identidade e a torna diferente das outras? Somos cada vez mais arquétipos, clones de tipos definidos que repetem os mesmos tiques, os mesmos gestos. Todos usamos as mesmas marcas, temos os mesmos gostos e vamos às mesmas festas.
Se nos despirmos de toda a parafernália que produzimos ao longo de milhares de anos de civilização, o que é que fica? Seremos mesmo mais evoluídos do que os homens que pintaram as paredes de Lascaux? Ou simplesmente iguais? Eles só tinham a pedra das paredes da gruta e eu tenho um computador portátil, não preciso de misturar tintas nem de sujar os dedos e tossir com o fumo dos archotes.
O homem passou a ser verdadeiramente homem quando traçou algo sobre alguma coisa e o admirou pelo que era e não pela utilidade que poderia ter. Neste espaço epigrafado “O Impulso Estético” procuraremos sobretudo pensar, para lá de imediatismos e utilitarismos, sem intelectualites nem outras doenças culturais que tornam o tema uma seca. Não somos ratos de biblioteca nem lemos os clássicos (bem, alguns lemos mesmo…), somos um produto assumido da era da caixa que mudou o mundo, mas nem por isso desistimos de pensar ou nos resignamos a ser mais alguns a engrossar a rave ininterrupta da carneirada. We’ll be back!
Os Diletantes Preguiçosos (email4feedback: kronikastugas@hotmail.com)
Comentários