Néctares de Baco (1) - O preço é só um começo
Lá dizia a propaganda do beato de Santa Comba Dão, que beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses.
Nos tempos que correm não serão tantos a comer, com certeza, mas os que produzem fazem-no bem melhor. Findo que está o reinado do vinho a granel, que corria baixo das tabernas esconsas de bairro, nas últimas duas décadas tem sido percorrido um longo caminho em direcção à qualidade.
Não só os produtores, na sua maioria, apostaram definitivamente nessa qualidade, como também os consumidores, inundados de informação vinícola, com guias, roteiros e feiras de vinhos anuais, estão mais exigentes e por isso a selecção dos produtos vendidos tem de ser ainda mais rigorosa. Só há uma coisa que espanta: como é que podem aparecer todos os anos mais não sei quantas marcas de vinho, em particular do Alentejo? Haverá vinha para tanto vinho?
De qualquer modo, há por aí umas preciosidades que vale a pena descobrir (e não queremos com isto armar-nos em críticos da matéria, nem sequer rivalizar com os escritores da nossa praça, até porque os nossos patamares são mais modestos, mas totalmente honestos), sem entrar na loucura de alguns preços verdadeiramente obscenos (cá para mim, 35, 40, 50, 75 euros ou mais por uma garrafa é escandaloso, principalmente para o país que somos).
Um dia destes, quase por acaso, deparei com umas garrafas da Sogrape, sem grande aspecto, com rótulo modesto, preto com letras vermelhas. Dizia apenas isto: Quatro regiões, 1997. Feito com uvas provenientes de quatro das mais famosas regiões do país, Douro (Tinta Roriz), Dão (Touriga Nacional), Bairrada (Baga) e Alentejo (Trincadeira), vinificadas separadamente e depois loteadas para produzir o vinho de que aqui se fala. Classificado como vinho de mesa. Preço: 12,77 EUR, carote.
Contactados os potenciais compinchas do costume, ficou decidido comprar duas que seriam deglutidas por três (sim, porque os amigos não são só para partilhar o néctar, mas também o seu custo). E assim, na primeira ocasião lá se despejaram (para dentro) as garrafas, com a promessa de voltar à carga. Resultado: um espectáculo! Mas vindo da Sogrape outra coisa não seria de esperar. Afinal, de que serve uma classificação do IVV, quando o que está dentro da garrafa é que conta?
Actualmente exagera-se no preço dos vinhos, aproveitando um pouco a moda. Caros amigos, errado é comprar pelo rótulo, ou comprar só o caro porque o caro deve ser bom (se puderem fazê-lo). Se não sabe, procure o conselho de quem conhece, ou um dos inúmeros guias que por aí andam. Mas deixe-me afirmar-lhe que muitas vezes temos confirmado que diferenças grandes de preços - por exemplo entre um vinho "normal" de uma marca e a respectiva Reserva - não se justificam minimamente. Gastando muito menos podem comprar-se vinhos quase tão bons. Só um exemplo. O Duas Quintas, vinho do Douro, em que uma garrafa custa 7,5 EUR. O preço do Reserva vai para os 35, 40 EUR. Será que este é 5 vezes melhor que aquele? Dificilmente o será. Não que não seja melhor, mas nesta como noutras coisas, há que conhecer a relação qualidade-preço e escolher ponderadamente. Não limite o seu prazer, mas não o faça depender demasiado do recheio da sua carteira.
Kroniketas
feedback para kronikastugas@hotmail.com
Nos tempos que correm não serão tantos a comer, com certeza, mas os que produzem fazem-no bem melhor. Findo que está o reinado do vinho a granel, que corria baixo das tabernas esconsas de bairro, nas últimas duas décadas tem sido percorrido um longo caminho em direcção à qualidade.
Não só os produtores, na sua maioria, apostaram definitivamente nessa qualidade, como também os consumidores, inundados de informação vinícola, com guias, roteiros e feiras de vinhos anuais, estão mais exigentes e por isso a selecção dos produtos vendidos tem de ser ainda mais rigorosa. Só há uma coisa que espanta: como é que podem aparecer todos os anos mais não sei quantas marcas de vinho, em particular do Alentejo? Haverá vinha para tanto vinho?
De qualquer modo, há por aí umas preciosidades que vale a pena descobrir (e não queremos com isto armar-nos em críticos da matéria, nem sequer rivalizar com os escritores da nossa praça, até porque os nossos patamares são mais modestos, mas totalmente honestos), sem entrar na loucura de alguns preços verdadeiramente obscenos (cá para mim, 35, 40, 50, 75 euros ou mais por uma garrafa é escandaloso, principalmente para o país que somos).
Um dia destes, quase por acaso, deparei com umas garrafas da Sogrape, sem grande aspecto, com rótulo modesto, preto com letras vermelhas. Dizia apenas isto: Quatro regiões, 1997. Feito com uvas provenientes de quatro das mais famosas regiões do país, Douro (Tinta Roriz), Dão (Touriga Nacional), Bairrada (Baga) e Alentejo (Trincadeira), vinificadas separadamente e depois loteadas para produzir o vinho de que aqui se fala. Classificado como vinho de mesa. Preço: 12,77 EUR, carote.
Contactados os potenciais compinchas do costume, ficou decidido comprar duas que seriam deglutidas por três (sim, porque os amigos não são só para partilhar o néctar, mas também o seu custo). E assim, na primeira ocasião lá se despejaram (para dentro) as garrafas, com a promessa de voltar à carga. Resultado: um espectáculo! Mas vindo da Sogrape outra coisa não seria de esperar. Afinal, de que serve uma classificação do IVV, quando o que está dentro da garrafa é que conta?
Actualmente exagera-se no preço dos vinhos, aproveitando um pouco a moda. Caros amigos, errado é comprar pelo rótulo, ou comprar só o caro porque o caro deve ser bom (se puderem fazê-lo). Se não sabe, procure o conselho de quem conhece, ou um dos inúmeros guias que por aí andam. Mas deixe-me afirmar-lhe que muitas vezes temos confirmado que diferenças grandes de preços - por exemplo entre um vinho "normal" de uma marca e a respectiva Reserva - não se justificam minimamente. Gastando muito menos podem comprar-se vinhos quase tão bons. Só um exemplo. O Duas Quintas, vinho do Douro, em que uma garrafa custa 7,5 EUR. O preço do Reserva vai para os 35, 40 EUR. Será que este é 5 vezes melhor que aquele? Dificilmente o será. Não que não seja melhor, mas nesta como noutras coisas, há que conhecer a relação qualidade-preço e escolher ponderadamente. Não limite o seu prazer, mas não o faça depender demasiado do recheio da sua carteira.
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