Vinte e cinco do quatro



Não sei se repararam, mas o que vos concedeu esta ponte (a bastantes, com certeza) ou, pelo menos, esta terça-feira de descanso, foi uma coisita chamada 25 de Abril. Tende a ser esquecida por cada vez mais indivíduos: alguns, porque ainda o têm atravessado na garganta e não o conseguem engolir; outros, por motivo da data de nascimento inscrita no BI. Como já aqui escrevi, esse é o futuro de todas as efemérides – o tempo não perdoa, e tal como hoje em dia só vemos meia dúzia de grunhos (monárquicos e/ou fascistas) a festejar a restauração pelos motivos errados, e que o próprio 5 de Outubro já caiu no rame-rame do dia para político discursar e para o vulgo descansar, também esta data que tanto nos deu acabará por ser apenas um dia bem passado com os amigos ou a pontezita jeitosa que deu para ir espairecer para o Algarve…

Tudo bem, é a vida. Mas mesmo aproveitando para descansar, mesmo não indo para a rua de cravo vermelho na mão, mesmo que pensemos que muito do prometido não se cumpriu (e que revolução o fez?), deveríamos meditar durante cinco minutos sobre o que temos à nossa volta, sobre os gestos e acções do quotidiano que de tão rotineiros não são novidade para ninguém, ou sempre foram assim para os mais novos. Gestos tão banais como comprar jornais que não foram censurados, como poder protestar contra o que consideramos injusto sem sermos fichados por uma polícia política, coisas tão simples como podermos juntar-nos com um objectivo qualquer sem termos a tutela governativa a querer controlar-nos, ou simplesmente podermos sonhar sem que ninguém nos venha dizer que esse sonho é proibido.

Quando ouço um imbecil qualquer bradar para as audiências de circunstância que “do que precisávamos era de outro salazar”, apetece-me esmagar-lhe as ventas mesmo ali ou mantê-lo sem dormir por dias a fio, como se fazia noutros tempos! O que precisamos é de eliminar o fascismo bucolizante do botas que ainda paira nas nossas mentes e avançar para o futuro! O choque tecnológico somos nós, é cada um de nós querer fazer mais do que beber rotinas de funcionário público à espera da reforma, é querer ser melhor que o vizinho, não para ele ter inveja de nós mas simplesmente para nos sentirmos bem e sermos melhores do que éramos!

Não consigo acreditar que quem se lançou por caminhos mais desconhecidos do que uma viagem da Terra à Lua esteja 500 anos depois transformado num ser amorfo que não faz nem deixa fazer! Eu por mim tento sempre melhorar-me e melhorar o que me rodeia, e não concebo outra forma de viver. Problemas certamente que os há e sempre existirão, mas certamente conhecerão a velha história, sejam religiosos ou não, do parzinho que foi expulso do paraíso há um ror de anos e que desde então tivemos de resolver os nossos problemas sem ajuda externa. É a vida, para quem não sabe ou anda distraído.

Este ano não quero dizer “25 de Abril Sempre”. Quero dizer “25 de Abril Hoje”, “25 de Abril Amanhã”, “ 25 de Abril Todos-os-dias”! A liberdade e o futuro não têm dia marcado.

tuguinho, cínico libertado

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