48 anos

As revoluções raramente resultam quando “resultam”, porque se resultassem, se o que terminasse implantado fossem as ideias radicais que normalmente as norteiam, acabaríamos com ditaduras do proletariado ou de algum caudilho, disparadas em direcção de um ismo qualquer que, tal como as religiões, promete um mundo melhor para o qual não há transportes...

As revoluções só resultam quando “falham” – a nossa, que se iniciou com o 25 de Abril de 1974, foi falhando em muitos dos seus objectivos iniciais, oscilando entre o perigo de um putsch comunista de tipo soviético e a retoma fascizante pelos simpatizantes do regime caído, ambos malogrados felizmente: muito pela oposição de homens que não se deixaram vencer e que, pela mobilização que conseguiram ou pelas acções que realizaram, não deixaram que um ou outro extremo se implantasse. Os nomes nem precisamos de os dizer, todos os sabemos.

De fracasso de radicais em fracasso de radicais, ficámos no único sítio que valia a pena: a nossa democracia imperfeita! Que é, mesmo assim, muito melhor do que a alternativa contrária, com que uns quantos ainda sonham: esses, os que gostariam que a longa noite fascista nunca tivesse terminado e que agora saíram debaixo das pedras para dar voz na casa da democracia – o Parlamento – a indivíduos que insultam a própria democracia de cada vez abrem a boca, e troçam desta democracia imperfeita que lhes permite ter a voz com que anunciam intenções que nos fariam retroceder a tempos da barbárie que julgávamos estar enterrados! Esses, os mesmos que nada fizeram para ter a liberdade que lhes caiu no colo e a cada passo dela desdenham, sonhando com a longa noite em que éramos um país quase medieval de ignorantes, analfabetos e desvalidos, pobrezinhos mas honrados...

Chegámos portanto aos 48 anos de uma falha contínua que nos mantém livres para falar e pensar, livres nas escolhas que fazemos, livres nos erros que cometemos, porque liberdade é também isso: a liberdade para errar e fazer más escolhas. Depois de 48 anos seguidos de uma outra revolução que “resultou” e nos amordaçou, restringiu e reprimiu, é obra!

E neste ano, em que pela primeira vez celebramos mais tempo em liberdade do que aquele que tivemos de ditadura, queremos celebrar a dobrar aquele dia que nos trouxe de novo a luz da liberdade, uma liberdade que os menores de 50 anos nem sonham o que é não ter, porque já cresceram e viveram com ela; “O dia inicial inteiro e limpo”, imortalizado com estas palavras no inesquecível poema de Sophia.

Quanto ao resto, às pseudo-datas que alguns querem meter à força ao mesmo nível do “dia inicial inteiro e limpo”, não serão mais do que meras notas de rodapé na história dum país aos trancos e barrancos depois de 48 anos amordaçado, dum país à procura dum rumo e à procura de si próprio, e do seu próprio equilíbrio, enquanto soltava todo o vapor acumulado durante meio século na panela de pressão, até se consolidar nesta democracia imperfeita – como no fundo são todas, porque como disse Winston Churchill, “a democracia é o pior dos regimes, excluídos todos os outros.”

Por isso, vivam as revoluções falhadas! Viva o 25 de Abril!

Viva o 25 de Abril!
Viva o 25 de Abril!
Viva o 25 de Abril!

tuguinho e Kroniketas, abrilistas de cravo vermelho ao peito

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