O país dos coitadinhos (I)

Um recente comentário de um dos membros deste blog no Diário de uma professora, a propósito deste artigo ali publicado, onde se contestava com veemência, e com alguma ironia à mistura, algumas justificações dadas pela autora para uma situação incompreensível, foi apagado pela autora por considerar que o mesmo não era digno de figurar no seu blog, aconselhando de caminho a pôr as peixeiradas no nosso. Em vez de responder, de retorquir à argumentação com outra argumentação que tentasse rebater as nossas afirmações, como estas estavam totalmente em desacordo com o que foi dito não gostou e simplesmente apagou. É o caminho mais fácil, é rápido e não dá trabalho.
Está no seu direito. É uma das prerrogativas de quem tem um blog, essa de fazer o que quer dos comentários dos leitores. No entanto, o princípio está completamente errado.
A blogosfera é, acima de tudo, um espaço de liberdade, mas também de polémica, e esta atitude de injustificada censura revela, antes de mais, uma completa incompreensão desse espírito, além duma total ausência de sentido democrático e de respeito pelo contraditório. À falta da força da razão, usa-se a razão da força. O nosso comentário não foi ofensivo nem insultuoso, não foi usada linguagem imprópria nem grosseira. Portanto ficamos a saber que:

- O comentário não era digno de figurar naquele blog porque retorquia às afirmações da autora com uma série de questões que ela não quis ou não soube rebater;
- Era indigno porque não aceitava que houvesse 50 razões para dar 15 faltas em 3 meses;
- Era indigno porque achava que em qualquer profissão isso poderia dar direito a despedimento com justa causa;
- Era indigno porque considerava que se toda a gente se desculpasse assim o país parava;
- Era indigno porque perguntava se ainda sobrava alguma razão para dar aulas em vez de lhes faltar;
- Era indigno porque pensava que os alunos seriam a razão principal para dar aulas, mas se calhar estava enganado e estes seriam apenas uns empecilhos, no meio da engrenagem, que é preciso aturar;
- Era indigno porque perguntava do que se queixaria quem assim se queixa, se tivesse um emprego onde fosse obrigado a estar das 9 às 18 h, de 2ª a 6ª feira, sem dias de folga, sem manhãs nem tardes livres, sem pausas no Natal, na Páscoa e no Carnaval, para além de um mês de férias no Verão;
- E finalmente era indigno porque terminava citando a afirmação do Miguel Sousa Tavares que reproduzimos no post abaixo.

Mas não há problema; quando quisermos fazer um comentário, fazemo-lo aqui, porque ninguém o vai apagar.
Em 3 anos de existência deste blog, que nos lembre só uma vez apagámos comentários dos leitores: foi quando mudámos o motor de comentários para o Haloscan, o que fez desaparecer todos os comentários anteriores. Antes e depois, nunca os comentários dos leitores nas Krónikas Tugas foram alvo de censura, fossem favoráveis ou desfavoráveis aos autores. Como o blog é nosso, também temos a prerrogativa de ter sempre a última palavra, se assim o entendermos, respondendo aos comentários com novos posts que rebatam o que foi dito pelos leitores. Também podíamos activar a moderação de comentários e não o fizemos, nem aqui nem nas Krónikas Vinícolas. Não viramos a cara a uma boa polémica quando ela se proporciona, e já tivemos várias, quer com leitores quer com outros blogs. Recentemente tivemos uma polémica com o Polis&Etc por causa do nome da Ponte 25 de Abril, como já antes e depois tivemos outras bastante acesas (e quando falamos ainda nos divertimos com as mesmas), tal como já tivemos com um leitor por causa da questão do aborto (ver Setembro de 2004). Ainda não há muito tempo fizemos um post em resposta a um comentário noutro artigo acerca da entrevista da Judite de Sousa ao Ricardo Araújo Pereira. Mas nunca considerámos qualquer comentário indigno de figurar neste blog. Indigno seria censurar os comentários daqueles que nos contestam.
Quem não tem estômago nem “fair play” para suportar comentários discordantes, mais vale não permitir comentários no seu blog, ou activar a moderação dos comentários, onde o leitor é informado que só depois de aprovado o seu comentário será publicado. Ou então ponha-se um aviso no blog onde se diga que só são aceites os comentários favoráveis às opiniões do/a autor/a. Todos aqueles que não alinharem na teoria dos coitadinhos serão considerados indignos de figurar no blog, logo liminarmente apagados.
Duma coisa podem estar certos todos aqueles que se dão ao trabalho de vir aqui e têm pachorra para aturar as nossas ditas-“peixeiradas”: não fazemos parte de lóbis nem de grupos de pressão; nunca alinharemos em carneiradas nem seremos reféns do politicamente correcto; assim como não embarcamos em estratégias de vitimização nem em teorias de perseguição promovidas corporativamente por grupos profissionais que passam o tempo a fazer o papel de coitadinhos.
Quem não gostar assim, mais vale ir bater a outra porta.

Idálio Saroto, provedor do blog

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