Estória? Qual história!

A propósito duma forma de escrita que tem começado a ver-se por aí, com a palavra “estória” em substituição de “história”, fui ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa procurar o que eles lá dizem a este respeito. Há variadas perguntas e respostas sobre o tema, mas a primeira pesquisa que fiz remeteu-me para um resultado veio ao encontro do que eu pensava. Ora vejamos:

“Não são sinónimos. É a mesma palavra com dupla grafia, e derivada do latim «historia(m)». No português medieval, escrevia-se historia, estoria, istoria, assim como homem, omé, omee (com til no 1.º e), ome. Compreende-se, porque a ortografia ainda não estava fixada.
No Brasil, talvez por influência do inglês «story» (conto, novela, lenda, fábula, anedota, etc.) e «history» (narração metódica dos factos notáveis ocorridos na vida dos povos), começaram a empregar o português antigo estória para significar o mesmo que o inglês «story». É uma palermice, porque, até agora, nunca confundimos os vários significados de história. O contexto e a situação têm sido mais que suficientes para distinguirmos os vários significados. A estória só vem confundir as pessoas.
Seria ridículo começarmos, por exemplo, a empregar homem para indicar o ser humano em geral, isto é, a espécie humana, a humanidade; e omem, para designar qualquer ser humano do sexo masculino, como por exemplo em «aquele omem que está ali», «o omem (= marido) da Joana», «sanitários para omens», etc.
Alguém teria cara para abraçar esta ridicularia? Mas têm-na para escrever história e estória.
Sigamos o nosso Camões, que escreveu histórias na estância 39 do Canto VI de Os Lusíadas:
«Remédios contra o sono buscar querem,
Histórias contam casos mil referem».”


Perante isto, estou esclarecido: já suspeitava que a sua utilização actual é uma “brasileirice” que, como quase todas as que importamos para a nossa língua (porque os brasileiros não têm língua), não passa de disparate. Portanto, vou continuar a usar a “história” como sempre usei e continuar a recusar-me a escrever “estória”, como sempre recusei.
Só me resta dizer, portanto: deixem-se de histórias!

Kroniketas, defensor acérrimo da língua portuguesa... de Portugal

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