The Musical Box



Há uma semana foi o “Off the wall”, concerto de tributo aos Pink Floyd. Esta 6ª feira as Krónikas Tugas em peso deslocaram-se à Aula Magna para assistir à recriação do concerto dos Genesis onde era apresentado o álbum “The lamb lies down on Broadway” (1974). Enquanto o grupo de tributo aos Pink Floyd pretendeu reproduzir as músicas originais o mais fielmente possível, este grupo intitulado The Musical Box foi mais longe: para além de reproduzir a música, o objectivo era “clonar” até ao mais ínfimo pormenor a prestação dos Genesis em palco, actuando exactamente como se fossem os originais.
Quando os Genesis actuaram em Cascais em 1975, eu não só era muito novo para estas andanças como ainda nem sequer ligava ao rock. Ao contrário, certamente, de muitos dos presentes na Aula Magna que tiveram o privilégio de assistir ao concerto de há 31 anos, para mim foi uma estreia absoluta.
O cuidado posto nesta performance parece ter sido levado à exaustão. Não só foram projectados os mais de 1000 slides usados pelos Genesis nos concertos, como os músicos em palco comportaram-se como verdadeiros clones dos originais. O vocalista vestiu-se como Peter Gabriel e usou as mesmas metamorfoses cénicas, que incluíam diversas mudanças de máscara e movimentações pelo palco de acordo com os momentos da história que estava a ser contada. O guitarrista esteve sempre sentado como Steve Hackett costumava fazer. Até arranjaram um baterista canhoto como Phil Collins, que também fez os coros e chegou ao ponto de, quando cantava, fazer os mesmos esgares e caretas que Phil Collins faz. Até fiquei a pensar que deve ter andado a ter lições de bateria com o Phil Collins, tal a semelhança com a forma de tocar bateria deste. Também foi usada uma guitarra de dois braços, como Mike Rutherford usava na época. E o teclista repetiu os sons de Tony Banks.
Sendo o álbum apresentado uma história, foi executado do princípio ao fim. Para o encore foram usados dois clássicos: um que já se esperava, “The musical box” (a fazer jus ao nome do grupo), o tema de abertura do álbum “Nursery Cryme” (1971), e “The knife”, do álbum “Trespass” (1970), ainda anterior à época de Steve Hackett e Phil Collins. Presumivelmente também terão sido estes os encores tocados pelos Genesis nos seus concertos.
Passadas as duas horas e pouco da praxe, ficámos com vontade de mais. Pessoalmente, o sentimento dominante após estes concertos revivalistas de dois super-grupos e dois dos nomes mais importantes da história do rock, é duma imensa pena de não ter podido assistir a estas performances executadas pelos músicos que as tornaram famosas. A interpretação do tema “The musical box” foi mesmo, para mim, o ponto alto do espectáculo, não só porque é uma das melhores canções dos Genesis como a sua complexidade instrumental só é verdadeiramente perceptível se for vista. Ouvindo não se percebe na totalidade o grande trabalho instrumental que ali está. É verdade que a execução foi excelente, mas inesquecível seria ver em palco Peter Gabriel, Tony Banks, Phil Collins, Steve Hackett e Mike Rutherford. Vi os Genesis em 1992, sem Gabriel e sem Hackett, com Daryl Stuermer e Chester Thompson em funções para libertar Phil Collins para a frente do palco, e apesar da competência técnica de ambos fica-se sempre com uma sensação de um certo vazio, tal como acontece com os Pink Floyd. Os fãs de longa data destes grupos foram-no desde o tempo em que eles se tornaram famosos com as suas formações completas, e são essas que guardam na memória. Tal como já referi acerca do “Off The Wall”, o que vemos agora são grupos amputados. Acho que tanto uns como outros devem aos fãs aquilo que os Pink Floyd fizeram para o Live 8: reunir-se de novo, pelo menos uma vez, e fazer uma grande digressão para recordar os bons tempos. Assim, pelo menos, ficaríamos todos um pouco saciados das saudades que nos deixaram, e que não são os clones de hoje que conseguem apagar, por muito fiéis que sejam. Mas tal como os Pink Floyd, também os Genesis anunciaram no seu site oficial, em Dezembro de 2005, que não está previsto tocarem em lado nenhum nos próximos 12 meses. Já os “The Musical Box” anunciam para 2007 a sua despedida com uma nova digressão onde será tocado o “Selling England by the pound” (1973). Cá ficamos à espera.

Parece que ainda há mais um grupo do género na estrada, intitulado “The Logical Tramp”, já com actuações agendadas para o Porto, Faro e Ilha do Pico. Como se infere do nome, é um tributo a outro dos meus grupos preferidos, os Supertramp, uma das minhas primeiras paixões musicais. Aliás, no final do concerto na Aula Magna, a música ambiente que começou a tocar foi precisamente “The logical song”. Por acaso, ou talvez para nos abrir o apetite. Ainda tive a possibilidade de vê-los com a formação completa, em 1979 no Pavilhão de Cascais, na sequência do sucesso de “Breakfast in America” (foi o primeiro concerto do género a que assisti). Voltei a vê-los em 2002 no Pavilhão Atlântico, com uma formação já distante da que os tornou famosos. Roger Hodgson já há muito tinha saído, deixando para Rick Davies todo o protagonismo, o baixista Dougie Thomson também abandonou e o novo co-vocalista, que supostamente substituiria Hodgson, deixa muito a desejar nesse papel. No meio das mudanças, os 5 passaram a ser 8. Não voltou a ser a mesma coisa. Segundo li, os “The Logical Tramp” pretendem fazer reviver os Supertramp dos tempos áureos, ou seja, com Roger Hodgson, e reclamam até ser melhores que a formação actual. Vou estar atento.

Para finalizar, uma referência ao estranho comportamento de algum público. Para além de meia-hora depois do horário marcado para o início ainda haver gente a entrar na sala, o que mais me espantou foi o permanente corrupio de alguns espectadores, saindo e entrando na sala constantemente, não se percebendo muito bem o que lá foram fazer para não assistir a todo o espectáculo. Houve uns que até chegaram a sentar-se na escada em ver de irem para o seu lugar, o que é uma coisa completamente estranha. Enfim, particularidades dos portugueses que nunca hei-de entender.

Kroniketas, melómano saudoso

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