O sushisurf


Ou
A dissertação definitiva sobre os modismos enervantes

“Endoidou de vez!”, clamam os mais tolerantes. “Nunca me enganou com aquela pose lúcida.”, bichanam os que se julgam mais sagazes. “Agora deu-lhe para isto!”, constatam os de maior compaixão. “Mas que raio é um sushisurf?”, berram os mais práticos.
Ora bem, um sushisurf… não é nada! É apenas o título do post onde quero falar de algumas modas que já se começam a tornar enervantes: o sushi e o surf!
Como diziam os outros naquele rap célebre, “nada contra”! Acho as actividades de comer peixe cru ou de tentar equilibrar-se nas ondas com um bocado de pau ou fibra ou lá o que é debaixo dos pés tão legítimas como as que me dão gozo a mim. Portanto, não há aqui nada contra as pessoas que realmente gostam de uma coisa ou outra. Acaba aqui a parte politicamente correcta.

O que realmente me enerva é a profusão de sushiómanos que de repente surgiu a tecer loas sobre as virtudes daquele tipo de comida. Meus amigos, também já provei (até várias vezes, não fosse o “cozinheiro” ser mau ou eu ter azar) e digo-vos que, se não fossem os molhos, aquilo só sabia a uma coisa: peixe cru! E peixe cru por peixe cru, prefiro biqueirões em vinagrete. Cá para mim este “petisco” surgiu nalguma época em que os japoneses não tinham onde cozinhar. Vai daí enrolaram a coisa num ritual e assim, para o peixe cru lhes passar pelas gargantas. Mas nada de mal vem ao mundo por alguém gostar desta comida – mas é ver o exército de pseudo-apreciadores em esforços hercúleos para o fazer descer pela garganta, só porque é moda e é bem frequentarem sushi-bars e restaurantes com nomes acabados em -moto. Simplesmente insípido – a comida e os modistas.

Para continuar no peixe, falemos agora do surf. Ainda sou do tempo em que surfista era bicho raro e realmente o era, ou seja, era alguém que no mínimo se conseguia pôr de pé na prancha, o que não é despiciendo, e que tinha uma filosofia de vida muito própria. De repente (é, parece que este tipo de coisas acontece sempre assim), catadupas de surfistas de fatinho à maneira e prancha debaixo do braço brotaram das areias e entupiram as nossas vagas como cardumes de sardinhas! É vê-los como manchas de crude nas ondas das nossas praias, a tentar arranjar uma vagazita na onda a abarrotar (ena, esta saiu bem!). E depois existem todas as declinações: bodyboard (para os que nunca iriam conseguir pôr-se em pé na prancha), kitesurf (para os que gostam de esticões), windsurf (para os que queriam ter alguma coisa para se agarrarem), etc.
Se nem no tempo do Marés Vivas assistimos a este desabrochar da malta da prancha, o que os fez surgir agora assim? Os Morangos com Açúcar? Os preços do material que baixaram? Agora há pranchas da Floribela? Ou passou apenas a ser bonito andar com a prancha na mão e o cabelo a esvoaçar, porque fica melhor na fotografia?
Não me interpretem mal, eu gosto muito de água! Bebo-a muito e uso-a todos os dias para tomar banho. E desde já vos confesso que não é por não saber nadar que este texto passou a existir. Só que estas coisas causam-me nervos! É a atitude de carneirada que também noutros campos se exibe, para mal da nossa existência. Que mal há em nadar simplesmente?
Tenho para mim que ainda vou ver malta a tentar equilibrar-se na prancha enquanto come uns rolinhos de sushi. Pelo menos sempre era original…

tuguinho, cínico encartado

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