Um país à mercê do mar

Os recentes avanços do mar em Esmoriz e na Costa de Caparica vieram pôr a nu o estado calamitoso de um dos melhores bens que existem em Portugal, os cerca de 800 km de costa. Após 30 anos de poder autárquico em democracia, o resultado dramático de políticas de construção irresponsáveis e criminosas na orla costeira, promovidas por presidentes de Câmara incompetentes, é este: o desastre está aí à porta.
Num país onde vale tudo para encher de betão qualquer bocadinho de terreno que possa ser atulhado de gente, estamos a começar a aprender da pior forma que com o mar não se brinca. Construções nas dunas, esporões pelo mar dentro que modificam as marés, falta de planeamento na construção de portos e barragens, sem cuidar de saber dos impactos que isso poderia provocar no movimento de areias, tudo tem contribuído para se chegar ao ponto onde estamos agora: o mar a entrar pela terra, levando tudo à sua frente e pondo em risco populações que nem deviam ali estar, e que muitas vezes construíram clandestinamente em locais de risco. A falta de respeito pelos cursos de água e pela força das marés levou a uma situação em que a única solução visível é gastar mais alguns milhões de euros a reconstruir barreiras destruídas pelo mar e a repor toneladas de areia que o mar irá levar novamente.
Assim se vai vivendo alegremente neste país de faz de conta. Quando o mar avança não há quem o segure, quando o calor aperta metade do país arde, quando alguém tem um acidente a 200 km de Lisboa demora 7 horas a chegar ao hospital e morre porque não se podia fazer mais nada, quando um barco naufraga à vista da costa os pescadores afogam-se porque a marinha, de tão ocupada que anda a fazer sabe-se lá o quê, não chega a tempo e todos os responsáveis acham que cumpriram a sua obrigação. Assim como aqueles que deixaram transformar a orla costeira num imenso estaleiro. Todos cumprem a sua obrigação. Até os polícias de trânsito que andam a multar carros mal estacionados em vez de regularem o trânsito nos cruzamentos.

Kroniketas, sempre kontra as tretas

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