O adeus ao “homem de borracha”


Chamava-se Manuel Galrinho Bento e era uma das grandes referências do Benfica. Foi o melhor guarda-redes português que vi jogar. Foi titular indiscutível do Benfica e da Selecção Nacional durante 10 anos, até que uma traiçoeira fractura numa perna, num treino da Selecção no Campeonato do Mundo do México em 86, lhe acabou com a carreira.
Não era muito alto para um guarda-redes (1,73 m) mas compensava a estatura mediana com uma agilidade e uma rapidez a sair da baliza invulgares. Em Outubro de 1980, num jogo da Selecção na Escócia, fez uma exibição sensacional defendendo o possível e o impossível, garantindo o empate a 0-0, o que lhe valeu a alcunha de “homem de borracha” nos jornais escoceses. Memorável ficou também a exibição contra a França na meia-final do Europeu de 84 contra a França, assim como outra em Estugarda, no jogo em que uma vitória por 1-0 sobre a Alemanha (com um golo fantástico de Carlos Manuel do “meio da rua”) garantiu o apuramento para o Mundial do México, jogo onde as bolas pareciam ir ter com ele, tirando-as em cima da linha de golo ou batendo nos postes e saltando-lhe para as mãos.
Foi o salvador do Benfica em muitas ocasiões, transformando-se muitas vezes no “São Bento” do 3º anel. Não tinha pontos fracos. Era bom entre os postes, quase imbatível nas saídas da baliza, em que raramente chegava mais tarde que os avançados, especialista a defender “penalties”, fortíssimo no jogo aéreo, conseguindo ir “lá acima” buscar a bola no meio de um cacho de jogadores e ficar com ela bem segura. Começou a notabilizar-se num jogo em Moscovo em Outubro de 77, quando no desempate por “penalties” contra o Torpedo, defendeu um e marcou o último.
Também dava os seus “frangos”, como todos os guarda-redes, e bem grandes. O seu grande terror era o Liverpool e principalmente um avançado galês de nome Ian Rush, que lhe marcava golos de todas as maneiras e feitios.
É ainda hoje o 11º jogador com mais jogos na Selecção (63), tendo estado quase a bater o máximo de internacionalizações de Nené, e o 6º com mais jogos pelo Benfica (465), depois de Nené, Veloso, Coluna, Humberto Coelho e Shéu, e à frente de Simões, Eusébio e Cavém.
Morreu no passado dia 1 de Março, aos 58 anos, vítima de ataque cardíaco, um dia depois de ter estado na gala de aniversário do Benfica.
Foi-se embora o Bento, um dos grandes símbolos da mística do Benfica. Até sempre. Os benfiquistas vão sentir-te a falta.

Kroniketas

PS: Claro que os anormais da claque Superdragões tinham que borrar a pintura, assobiando durante o minuto de silêncio em memória do guarda-redes. Sempre que podem, não perdem uma oportunidade de mostrar como são reles.

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