Mário Soares porquê?

Isto é como tudo na vida. As coisas (e as pessoas) têm um prazo de validade para determinados fins. O súbito aparecimento de Mário Soares como presidenciável, a meia-dúzia de meses das eleições, cheira como que a comida requentada. Se bem que nem sempre a comida requentada seja má, mas voltar à presidência já como octogenário parece apenas um sintoma de crise de personalidades à esquerda.
Mário Soares é, certamente, uma das figuras portuguesas do século XX. Em termos políticos até é capaz de ser “a” figura. Foi certamente o presidente mais popular depois do 25 de Abril. Mas caramba, ele já fez muita coisa, já teve o seu tempo, e agora seria altura de pensar em ficar sossegadinho a brincar com os netos e bisnetos. Acho que Portugal precisaria de figuras novas, e não de ir buscar os esqueletos ao armário. Vejam bem que até já se fala na possibilidade de Jorge Sampaio se recandidatar… daqui a 5 anos (apesar de tudo sempre é bem mais novo que Soares)!
Todas as eleições presidenciais foram ganhas pelo candidato apoiado pelo PS e, mais em concreto, depois da primeira eleição de Ramalho Eanes todos os presidentes foram eleitos pela esquerda. Claro que a direita já entrou em pânico porque a hipótese-Soares poderá fazer com que a tradição se mantenha, mesmo que Cavaco Silva esteja do outro lado. Mas este recurso, quase em desespero, a uma figura histórica como Mário Soares acaba por revelar, quanto a mim, uma falta gritante de candidatos com perfil ganhador à esquerda e, mais especificamente, no PS. Já se falou em António Guterres, António Vitorino, Manuel Alegre (que era visto como uma espécie de cordeiro a ser sacrificado), mas o nome de Cavaco também deixou a esquerda (e o PS) em pânico. Só faltava mesmo aparecer Freitas do Amaral como candidato da esquerda.
O problema é que todos estes eram nomes que não garantiam a vitória à esquerda, partindo do princípio que Cavaco estaria na corrida. Daí a solução que, teoricamente, será potencialmente mais ganhadora. Pois não é Mário Soares um animal político, um eterno sobrevivente, sempre lembrado por ter iniciado a corrida às eleições de 1986 contra Freitas, Zenha e Pintassilgo com 8% nas sondagens? Mas… será mesmo? Será que a história se repete?
No meio disto tudo, a esquerda tem medo de Cavaco e a direita tem medo de Soares. Portanto, só resta uma solução: avançarem um contra o outro. Se assim for, assistiremos a um combate de pesos-pesados da política nacional: os homens que coabitaram na presidência e no governo durante 10 anos. Será uma espécie de tira-teimas?

Kroniketas, últimas reflexões antes de férias

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