Um Mundo "Fast-Fúdico"

Se há coisa que detesto receber são aquelas mensagens SMS enlatadas, pré-escritas, que mediante um pagamento se podem enviar a qualquer mamífero. É o fast-food de algo que já por si é rápido e prático. Mas como dizia, detesto-as! O pior que um amigo, familiar ou conhecido me pode fazer é enviar-me uma coisa dessas naquelas ocasiões propícias ao acto: aniversários, Natal, Ano Novo, etc. Valorizo mais um honesto "olá" proveniente do polegar próprio do remetente do que qualquer testamento pré-pago a tecer-me loas! Sempre valorizei mais o artesanato do que a linha de montagem.
Não tinha muito mais graça - para quem é do tempo - colar os cromos da bola na caderneta usando clara de ovo ou massa de rissol do que com um asséptico tubo de cola? Agora nem isso! Além de os cromos estarem fora de moda já são autocolantes...
É tudo asséptico, normalizado, igual - recordam-se dos gelados vendidos por vendedores ambulantes, com cone comestível e a massa (de morango ou chocolate) coberta apenas por um papel vegetal? Podiam nao ser muito nutritivos, mas pelo menos tinham um sabor característico - hoje em dia são todos iguais, quando muito varia o aditivo e o número de série do corante.
A produção em massa deu-nos acesso a muitas coisas antes reservadas aos muito abastados e contribuiu para equilibrar um pouco a sociedade, mas na sua voraz ânsia normalizante retirou-nos aqueles pequenos defeitos, aquelas pequenas irregularidades que tornavam cada coisa única. Esse é hoje o verdadeiro luxo: poder ter algo que pela sua singularidade mais ninguém terá.

tuguinho, cínico encartado

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