Distorções da realidade



Dizia-se em tempos mais revolucionários que o futebol era para alienar o povo, para o distrair de coisas mais sérias. É verdade que tanto nessas alturas como há dois milénios, pão e circo sempre serviram para distrair os menos avisados (ou os mais broncos, se quisermos chamar os bois pelos nomes). Mas alguém com dois dedinhos de testa (mais um maravilhoso cliché linguístico neste singelo texto) não se deixa levar por essas coisas. Pode até gostar muito do pontapé na bola, mas isso não o faz esquecer as outras situações da vida, bem mais sérias do que um jogo.
Vem todo este arrazoado a propósito das pessoas que se deixam envolver por determinadas situações e que acabam por distorcer a realidade devido à assumpção desses esquemas, mentais, sociais ou religiosos, como a verdade. Já vimos isso acontecer com diferentes seitas pseudo-religiosas, em que o seguidismo em relação a um líder ou a uma ideia geralmente acaba em suicídio. É também o caso do psicopata que cria um mundo próprio em que de forma nenhuma se vê como o mau da fita. Mas estas são aquelas situações mais pesadas. E quando, devido à pressão do meio ou do próprio, o problema se situa na visão distorcida do próprio corpo? As coisas são mais subtis, não há rituais estranhos nem corpos pelo caminho, mas muitas vezes o resultado é o mesmo: a morte.
Foi hoje noticiado o caso de uma modelo brasileira que faleceu aos 21 anos devido à anorexia. Tinha 1,76m e quarenta e poucos quilos de peso. O que está à volta deste caso, o mundo da moda, pode ter mais atracção e glamour, mas resultou à mesma na morte de uma pessoa que praticamente deixou de comer porque se julgava com excesso de peso, o que, julgava ela, seria fatal para a continuação do exercício da sua profissão. Sendo essencialmente um distúrbio psíquico, neste caso porém foi a pressão do meio profissional que espoletou a situação, e não venham dizer as pessoas do mundo da moda que se está a tentar ligá-la à anorexia – como foi recordado num telejornal quando da recolha de declarações na Moda Lisboa, e que tiveram como pretexto a adopção de uma norma anti-modelos anoréxicos num desfile de moda em Madrid – porque ela já está ligada: basta ver a quantidade de cabides com pernas que se vêem a desfilar pelas passerelles.
Transformou-se elegância em magreza extrema e, com isso, potenciou-se o problema junto das camadas mais jovens, permeáveis a estes maus exemplos que lhes chegam. Legisla-se sobre tanta coisa inútil, tanto cá como por essa UE fora, porque raio não se decreta alguma coisa para acabar com manequins esqueléticos que têm tanto de belo como um desgraçado vítima de uma qualquer fome africana? Eu sei que uma opinião não é mais do que uma opinião e que até posso estar errado, mas eu não consigo ver beleza nenhuma em corpos andróginos, que perderam as formas e, mais tarde ou mais cedo, a saúde também.

tuguinho, cínico roliço

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