Ladrando à Lua (15) - E agora, Santana?

Já tínhamos o sarilho do túnel do Metro no Terreiro do Paço. Agora temos o sarilho do túnel das Amoreiras. Isto num país em que tudo se faz em cima do joelho, com a maior irresponsabilidade e sem que nunca ninguém seja chamado à pedra, ninguém é responsável por nada: as pontes podem cair de causas naturais, a Expo dá um buraco de mais de 100 milhões de contos mas o incompetente ex-comissário Cardoso e Cunha ainda se dá ares de importante na TAP e embirra com um gestor que veio do Brasil para pôr aquilo a dar lucro, as estradas IP3, IP4 e IP5 matam que se fartam por deficiências no traçado, e ninguém vai preso.
A gestão de Santana Lopes na Câmara de Lisboa já tinha revelado alguns sinais preocupantes de uma sede de protagonismo acima de todo o bom-senso. Desde as polémicas com o casino, o parque Mayer, as torres de Siza Vieira em Alcântara (vade retro, Satanás!), até à decisão inimaginável de proibir o trânsito em Monsanto ao fim-de-semana (se eu quiser ir ao parque infantil da Serafina com os meus filhos, como é que o sr. presidente da Câmara achará que é melhor: a pé, de bicicleta, de táxi ou de autocarro?), de tudo um pouco o homem se tem servido para deixar o nome ligado a algo notório na cidade. Mesmo que seja pela negativa.
Agora, a cereja no topo do bolo. Contra toda a prudência, lá avançou o famigerado túnel. Devo dizer que como utente da cidade de Lisboa, onde trabalho diariamente morando na periferia como tantos milhares de pessoas, a ideia na sua essência não me pareceu de todo descabida. Seria uma forma de minorar as filas intermináveis que quem entra na cidade pelo viaduto Duarte Pacheco apanha todos os dias, e poderia libertar os cruzamentos onde se gastam horas para conseguir passar um semáforo.
Mas eis que surge o malfadado estudo de impacto ambiental. Que foi pedido, reclamado e sugerido vezes sem conta pelos mais diversos sectores. Fazendo o papel de autista que tem caracterizado o seu mandato, Santana Lopes avançou sem o tal estudo, aconselhado ainda por cima por um secretário de Estado que, mesmo depois da decisão do tribunal, continua a dizer que o estudo não é necessário. Até quando continuaremos a ser (des)governados por gente desta?
Pois é, um túnel que afunda e volta a subir com inclinações de 9%, que passa meio metro abaixo do túnel do Metropolitano, que poderá ficar com centenas de carros parados lá dentro, em que não se sabe bem o que está no subsolo, como em grande parte da baixa da cidade, pode-se construir assim, do pé para a mão, só porque o autarca quer fazer algo em grande?
Conclusão inevitável: o homem é um irresponsável. Mas quem vai pagar a factura, como sempre, são os cidadãos que sofrem um trânsito caótico naquela zona e que agora, com a paragem das obras, não se sabe como vão ter este problema resolvido. Eu sei do que falo, passo lá todos os dias.
Se Santana Lopes achava que a Câmara de Lisboa era o trampolim para Belém, talvez o tiro lhe saia pela culatra. Já João Soares começou a perder a Câmara com a ideia peregrina de fazer um elevador para o Castelo de S. Jorge. Agora, Santana Lopes não só começou já a perder a Câmara, como a corrida às presidenciais.

Kroniketas, sempre kontra as tretas

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