Carta aberta a Miguel Sousa Tavares


Na edição do Expresso deste sábado Miguel Sousa Tavares manifesta a sua indignação pela acusação de plágio de que foi alvo na blogosfera, e insurge-se contra a cobardia da acusação a coberto da capa anonimato que a Internet permite, desvalorizando a utilidade deste meio. Da minha parte, o que tenho a dizer sobre o assunto é o que segue.

Meu caro Miguel Sousa Tavares:

Compreendo a sua indignação com a acusação de plágio de que foi alvo e a sua desconfiança acerca da utilização destas tecnologias. Sou seu leitor e ouvinte há muitos, muitos anos, quer na televisão quer nos jornais. Desde o tempo em que era jornalista na RTP ou na SIC, até às suas primeiras colaborações com a TVI, passando pela longa permanência no Público e também n’A Bola, apesar de não gostar do seu tendenciosismo enquanto portista.
Mas neste caso acho que não tem razão, por vários motivos:

1) O problema não são os blogues, muito menos é a Internet. Esta é um meio de democratizar o acesso à informação e a liberdade de que se desfruta é simultaneamente a sua grande força e a sua grande fraqueza, porque, tal como na democracia, o problema não está no regime, está na utilização que dele é feito. Tal como na democracia, há quem confunda liberdade com irresponsabilidade, e isso também é válido para este espaço. Se o acusador de plágio é alguém cobarde porque o faz a coberto do anonimato (e esse é um mau exemplo de utilização da liberdade), por tal motivo não merece qualquer credibilidade. Mas neste caso os seus colegas jornalistas são mais responsáveis e a sua actuação é mais grave porque dão cobertura ao boato sem verificarem a veracidade da acusação. E como sabe, pessoas altamente credenciadas na sociedade portuguesa também escrevem em blogues, como o Pacheco Pereira ou o Vital Moreira.

2) Ao contrário do Miguel, eu e muitas outras pessoas não temos espaços privilegiados para fazer opinião. Não temos à nossa disposição as páginas dos jornais e os horários nobres da televisão, nem somos convidados para fazer comentários na rádio. E no entanto temos opinião sobre as coisas, mas não temos onde fazê-lo. Agora temos: os blogues. Saiba que a maioria dos blogues que há por aí são feitos com boas intenções, e muitos deles até fornecem informações interessantes sobre diversos assuntos.
Só um exemplo: há imensos blogues sobre vinhos, onde os autores exprimem as suas opiniões sobre os vinhos que vão provando, divulgam as suas características e os seus preços, criando um manancial de informação para os outros leitores, e acabando por cruzar muitas informações entre si. Inclusivamente, esses blogues têm feito uma intensa divulgação dum evento que se vai realizar no próximo fim-de-semana, o “Encontro com o vinho e encontro com os sabores”, organizado pela Revista de Vinhos. E para lá ir tem de se pagar, portanto estão a fazer publicidade gratuita a um evento onde terceiros vão ganhar dinheiro. E sabe que mais? Nos blogues damos a nossa opinião, com ou sem pseudónimo, gratuitamente. Tudo é feito por carolice e não somos pagos para dar a nossa opinião, ao contrário do Miguel Sousa Tavares.

3) Este meio que o Miguel desvaloriza que é a Internet também o favorece, e sabe porquê? Por sua causa eu subscrevi (a pagar) a edição on-line do Público quando o Miguel lá escrevia, só para poder ler os seus artigos. Quando passou para o Expresso, eu subscrevi (a pagar) a edição on-line do Expresso para poder ler os seus artigos. E isso dá-me a possibilidade de ler só aquilo que me interessa e permite-me fazê-lo sem ter que me deslocar à banca para trazer o jornal para casa.

Portanto, agora como sempre, é preciso separar o trigo do joio e não confundir o meio com a boa ou má utilização que dele é feita.

Kroniketas

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