A quilometragem desvairada



Nas minhas deambulações destas férias pelo interior do país usei várias vezes aquelas coisas que às vezes são pagas e outras não chamadas autoestradas. São realmente uma mais-valia para o interior, mas há coisas que mais valia não acontecerem...
Em plena galgação da distância pela bastante recente A23 na direcção da Guarda, deparei-me com uma situação que me fez pensar em várias coisas, da compressão do espaço-tempo à "twilight zone", do José Cid aos Monty Python: lendo as indicações quilométricas apostas na via, a distância à Guarda evidenciou uma progressão assaz estranha, tendo em linha de conta que a velocidade do meu veículo não variou grande coisa nesse período de tempo. É que aquilo tanto saltava dez quilómetros entre dois cartazes consecutivos - o que só conseguiria percorrer naquele tempo se tivesse ligado os foguetes -, como apresentava uma diferença de três míseros milhares de metros, quando era evidente que a distância percorrida entre as duas indicações tinha sido bem mais extensa...
Como já referi, pensei em várias coisas: a cidade da Guarda podia estar a mexer-se de modo desordenado e a originar aquelas indicações variáveis, podia ter transposto o portal para o mundo do nonsense, ou simplesmente podia estar em Portugal. Venceu esta última, apesar de ter menor probabilidade do que as outras.
É que nesse sacrossanto rectângulo cheio de campos de golfe, construtores civis e jogadores de futebol, alteram-se traçados e constroem-se estradas novas, mas não se actualizam correctamente as distâncias (a outra hipótese, a de que as pessoas que as medem beberem muito antes de executarem a tarefa descartei-a, não por ser improvável mas por ser demasiado evidente). O condutor fica assim obrigado a introduzir um factor probabilístico que entre em linha de conta com este facto - assim uma coisa como aquele arredondamento que os bancos fazem nos juros dos empréstimos - para saber realmente quantos quilómetros faltam para o destino.
Enfim, no espartilho determinístico que é uma grande autoestrada, estas imponderabilidades até emprestam outro sal à viagem. Desde que lá na ponta esteja realmente aquela terra, who cares?

tuguinho, cínico de novo ao serviço

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