A Iliteracia na Tugalândia (4) – Os Pais desnaturados

Parece que vem aí o Apocalipse! Acho que a terra se vai abrir e engolir os pecadores e o fogo dos céus vai queimar toda a humanidade! Ou pelo menos é isso que se depreende da reacção de algumas associações de pais perante a possibilidade de se reinstituírem os exames do 4º e do 6º anos do ensino básico…
Ao que parece tornou-se proibido avaliar as criancinhas até aí por volta dos 16 anos, para não lhes causarmos traumas por causa de possíveis (mais do que possíveis) notas negativas. Que raio de mal tem em fazer o equivalente ao antigo exame da 4ª classe mas com um décimo da matéria que há alguns anos se dava? É porque vai revelar mais cedo as gritantes deficiências de conhecimentos dos meninos e das meninas? É preferível deixá-los avançar sempre com zeros a matemática e sem saberem falar português? Mas se não aprenderem nos primeiros anos de escola quando o farão? Na universidade? Nas empresas?
Parece que é mais confortável para muitos pais que os filhotes vão transitando de ano para ano, mesmo que não saibam escrever uma frase sem erros e com mais de duas palavras, do que marcarem passo no mesmo ano por não saberem o mínimo para avançarem nos seus estudos. É o facilitismo aplicado à massa estudantil, que nos dá as pérolas que já detectamos por todo o lado, desde erros de português em textos publicitários até à última que detectei em legendagens e que denota bem o nível de conhecimentos do tradutor – traduziu-se o inglês “compass” como “compasso”! Até eu, que só tive inglês no secundário e ainda para mais subalternizado ao francês que me impuseram, sei que “compass” não é “compasso” mas sim “bússola”! E bastava usar um dicionário… Mas se até só lhe falta o “o”, porque é que em português havia de ser outra coisa senão “compasso”? É o facilitismo e o “deixa andar” aplicado às actividades profissionais…
Porque isto anda tudo ligado! O facilitismo, a incompetência, os comportamentos anacrónicos, o caciquismo religioso ou político são vários dos factores que não nos deixam aproximar da Europa e que nos mantêm como uma espécie de corpo estranho com características de 2º mundo a pedir às portas do clube dos do 1º.
Voltando à vaca fria, que espécie de pais desejam um futuro de estupidez aos filhos, não os deixando ser avaliados enquanto ainda é possível corrigir as deficiências?
Preferia mil vezes que um filho meu levasse mais tempo do que o normal no seu percurso de estudante mas que, quando saísse do sistema de ensino, não soubesse apenas mascar pastilha elástica, dizer “tá-se bem”, conversar nos chats da net e andar pela nite, sustentado pelos paizinhos que têm sempre uns euros a mais para satisfazer os vícios dos meninos. Não é que estas actividades sejam más per si (aliás, também gosto muito de borga…) – mas quando são as únicas que se realizam e constituem quase o objectivo de vida da pessoa alguma coisa está mal. Não é preciso sonhar com amanhãs que cantam, mas é triste ser apenas o amanuense apagado de uma vida gasta em futilidades…

tuguinho, cínico encartado (e que ainda sabe falar e escrever português...)

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