O regresso da ideologia pura à economia ou o PREC da direita mirim

Aqui reproduzimos com a devida vénia.

http://educar.wordpress.com/2012/09/09/o-regresso-da-ideologia-pura-a-economia-ou-o-prec-da-direita/

A ideia nem é muito original, pois tal como me ocorreu há algum tempo, ocorreu a outros.

Tal como em 1975 se governou com base quase total na aplicação de uma ideologia, o mesmo se vai passando em 2012.

Desde 1975 que um grupo de pessoas na sociedade e na vida política que navegam entre o PSD e o CDS culpa o PREC pelo que chamam a destruição económica do país, confundindo o seu despojamento pessoal ou familiar com o do país. e há muito acalentavam a ideia do desforço. De responder aos excessos com outros excessos.

Essa tentação é especialmente visível numa geração mais nova, dos filhos dos que nessa altura sofreram na pele os desmandos da Esquerda mais canhota. Que nem sempre viveu com clareza o que se passou (alguns mal eram nascidos ou nem o eram…) mas ouviu falar em coisas terríveis, truncadas em muitos casos, justificadas em outros.

O engenheiro deu-lhes o pretexto ideal para se vingarem sem parecer que o estão a fazer, pois alegam que foi o socialismo (só porque o PS tem socialista no nome) que nos conduziu aqui.

E, usando esse pretexto, praticam um alegado anti-socialismo. Caracterizando instrumentalmente como socialismo a governação do PS de Sócrates, obliteram quem em pouco ela se distinguiu da governação do PSD de Cavaco.

E passam a uma prática que reputam de liberal, mas que não não passa do que da inversão do papel tradicional do Estado na redistribuição da riqueza numa social democracia. em vez de irem buscar aos que mais têm, para ajudar os mais despojados, optaram por ir buscar à maioria (não digo aos 99% mas pelo menos aos 90%) para dar a uma estreita minoria.

Tudo com base numa perigosa mistura de preconceitos pessoais com a adesão quase acrítica a teorias que parecem atractivas por se oporem a.

Se existir o cuidado de traçar o trajecto pessoal e familiar dos ideólogos do actual Governo (a maioria a parasitar na sombra dos testas de ferro) ou dos principais vultos da governação encontramos traços muito comuns acerca do que faziam e onde estavam os seus pais ou parentes mais próximos no 25 de Abril de 1974 (direitos de autor para Baptista Bastos).

Quase todos estavam a fazer coisas ou em locais que foram obrigados a abandonar no ano que se seguiu.

Isto não significa qualquer insinuação de adesão ao Estado Novo, mas sim de desafeição em relação ao que se passou no PREC, do qual a memória traumática lhes foi transmitida até ao momento que pudessem vingar-se, fazendo a contra-revolução social e económica que sentem ter-lhes sido negada desde então.

As medidas de austeridade anunciadas por Passos Coelho na 6ª feira são o passo mais claro nessa direcção de adesão a um modelo sócio-económico revanchista e baseado em teorias fortemente marcadas pelos princípios bushistas do republicanismo americano mais radical: reduzir os encargos com o trabalho para reforço económico do capital. O pretexto é que assim existe maior competitividade por parte das empresas para competirem no mercado global e, ao crescerem, produzirem a médio prazo mais riqueza e emprego.

Isto é assim em alguns livros e países do sueste asiático com um modelo socio-laboral de quase neo-servidão. Ou o modelo da China e da Índia, para citar os chamados emergentes do núcleo BRIC. Em que a expansão económica foi baseada no comércio externo, com exportações a preços hiper-competitivos, graças a uma mão-de-obra paga a valores irrisórios para os padrões ocidentais.

Mas que dificilmente funcionará na Europa, onde o modelo social (mesmo que em crise) não é o da neo-servidão, pelo menos por enquanto. E onde se sabe de há muito que o crescimento só se sustenta com um consumo interno forte e estável. Qualquer mediano estudioso de História Económica sabe isso e não adianta dizermos que o novo mundo da globalização é diferente de tudo o que conhecemos no passado. A aposta nas exportações faz sentido no sentido de uma dinâmica de expansão, mas é demasiado volátil para servir como base para um crescimento sustentado. Há 200 anos ou agora.

Não adianta apostar apenas na maior competitividade no mercado externo, retraindo por completo o consumo interno, pois isso fará muitas empresas falirem, criando mais e mais desemprego, e aumentando a vulnerabilidade á entrada de produtos orientais de largo consumo e baixo preço.

Para além disso, há uma diferença entre os países que cresceram a partir de pontos muito baixos dos custos de trabalho e a tentativa de empobrecer um país para que ele re-arranque com sucesso. Quando isso fosse possível, já a oportunidade teria passado.

Nem vale a pena ir desempoeirar os manuais de macro-economia do Samuelson e outros ou as clássicas histórias dos arranques industriais contemporâneos para perceber isso...

O sucesso está em protagonizar uma verdadeira mudança das práticas, não em replicar o que já não é inovação.

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