Richard Wright


O mês passado fui surpreendido com a notícia de que o teclista e fundador dos Pink Floyd tinha morrido aos 65 anos após uma breve luta contra o cancro. Caiu assim por terra, definitivamente, a ténue esperança que os fãs dos Pink Floyd ainda alimentavam de ver os quatro membros do grupo voltarem a juntar-se depois daquela breve aparição em palco no Live 8.

Richard Wright terá sido, porventura, o menos valorizado dos músicos do grupo. Com o brilhantismo de David Gilmour nas guitarras e o protagonismo de Roger Waters na composição a partir de certa altura, com ambos a repartirem a parte vocal, sabendo-se que a figura do baterista (Nick Mason) nunca é posta em causa, sobrava o teclista de que ninguém falava. O seu papel sempre foi mais discreto e na sombra, dedicado sobretudo à composição e aos arranjos. Wright teve uma acção preponderante nos arranjos de “Dark side of the moon” e marcou indelevelmente a sonoridade de “Wish you were here” e “Animals”. Um dos temas míticos dos Pink Floyd, “Shine on you crazy diamond”, que abre e fecha “Wish you were here”, tem a suportá-lo, por trás duma das melhores peças de guitarra do grupo, os teclados de Wright a dar ao tema o enchimento que lhe confere uma atmosfera quase cósmica. Em “Dark side of the moon” é da sua autoria um dos temas mais badalados do grupo, “The Great gig in the sky” onde a fabulosa voz de Clare Torry acompanha o piano de Wright.

Quando Roger Waters começou a assumir um protagonismo crescente e a querer dirigir o grupo segundo a sua vontade, Richard Wright foi uma das vítimas. Nas gravações de “The wall” e na digressão que se lhe seguiu, Wright participou não como membro do grupo mas como… empregado, porque Waters o tinha despedido. A sua saída foi inevitável e já no sucessor “The final cut”, o ponto máximo das paranóias de Waters que foi uma espécie de refugo do “The wall”, Richard Wright não participou e nota-se a sua falta na sonoridade do disco. Há ali um vazio que só Wright parecia saber preencher. Foi o fim dos Pink Floyd como os conhecíamos, e acabou por ser o fim de Waters no grupo em conflito com os restantes, tentando inclusive impedir que estes continuassem a usar o nome do grupo, o que resultou num processo judicial. Felizmente Roger Waters perdeu, porque o grupo não era ele.

O ano passado foi editado um DVD de David Gilmour em concerto onde contava com a presença de Richard Wright nos teclados. Era, portanto, uma espécie de metade dos Pink Floyd, o que sempre é melhor que nada. Mas não chega. Cerca de um quarto de século depois da saída de Roger Waters ainda havia quem esperasse que os quatro se voltassem a juntar em concerto para matar saudades aos fãs. Com a morte de Richard Wright ficaram sepultadas, também, todas as possibilidades de isso acontecer. Por culpa, essencialmente, de Waters.

Shame on you, Roger.

Kroniketas, floydista militante

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