Que bem se estava sem o futebol!


Foram 3 meses de sossego, de paz de espírito e de limpeza mental.

Claro que os jornais desportivos, desesperados pela falta de assunto, sem penalties e fora-de-jogo milimétricos para discutir até à náusea, fartaram-se de apregoar que todo o país estava ansioso pelo regresso da bola a rolar.

Não, não estava!

Deixámos de ser invadidos por discussões cretinas com fanáticos obtusos que se dedicam a destilar ódio por coisa nenhuma; deixámos de ter escoltas policiais a grupos de bandidos para segurar a manada; deixámos de ter tochas atiradas para dentro dos relvados; deixámos de ter visitas ameaçadoras a árbitros; deixámos de ter comunicados incendiários de quem tenta provar contra todas as evidências “tu-és-mais-corrupto-que-eu”; deixámos de ter offsides de 3 cm e penalties-que-são-e-não-deviam-ser ou penalties-que-deviam-ser-e-não-são com a complacência dos VAR vesgos...

Tudo isto parou durante 3 meses, e os primeiros sinais de retoma já não auguravam nada de bom. Era de prever que tudo estaria igual ao que era, e começou a perceber-se muito antes da bola começar a rolar. Os facínoras disfarçados de adeptos saíram dos buracos onde se acoitavam e voltaram à acção: desde pinturas vandalizadas a agressões com facas, a estupidez à solta já tinha dado sinal de si. Os golpes baixos e as jogadas subterrâneas voltaram com ameaças de impugnação de campeonatos que nem chegaram a acabar. O confinamento para os jogos que faltam passou de um grupo reduzido de estádios numa zona restrita do país para 17-estádios-17, dos 18 que são utilizados!

E assim que a bola começou finalmente a rolar, o “novo normal” não trouxe mais que o “velho anormal”. Primeiro dia, a derrota foi por culpa do árbitro. Segundo dia, o empate valeu um autocarro apedrejado e dois jogadores feridos.

Qual é a surpresa???

Qual é a novidade???

E perante o óbvio que é a “retoma” da selvajaria à solta, dirigentes ineptos apressam-se a condenar aqueles que cobardemente e hipocritamente têm protegido – mais por omissão do que por acção – durante anos!

“Os delinquentes responsáveis por estes actos criminosos”, que são referidos no comunicado do Benfica, são os mesmos que têm sido ostensivamente ignorados pelos responsáveis do clube, que continuam a olhar para o lado e a assobiar, fazendo de conta que aqueles não existem. “Os delinquentes responsáveis por estes actos criminosos” são todos aqueles que se recusam a pôr termo à actuação em roda-livre de bandos de criminosos que agem impunemente a coberto do símbolo e das cores do clube, conspurcando o seu bom nome e o bom nome de todos os adeptos que não têm nada a ver com aquela corja nem se revêem em tochas, very lights, agressões à facada, apedrejamentos e assaltos a lojas.

Os emissores deste comunicado são solidariamente culpados por estes acontecimentos, por tudo o que não fizeram ao longo dos anos para se demarcar desta gentalha! Agora fugiu-lhes o monstro do controlo, e sempre que o monstro foge ao criador torna-se incontrolável.

A direcção do Benfica (e não o SPORT LISBOA E BENFICA, porque o SPORT LISBOA E BENFICA sou eu e todos os outros que apenas queremos ver o nosso clube ganhar com limpeza, grandeza e fair play como no tempo de Eusébio, Coluna, Simões, Costa Pereira, José Águas, Germano, honrando a sua história gloriosa e centenária) está a colher os frutos do mal que semeou. Em vez de erradicar as ervas daninhas, deixou-as crescer e agora elas entram-lhe pela casa dentro.

O futebol português é tóxico, doentio, burlão, nauseabundo e infrequentável: não se recomenda a ninguém.

Enquanto não houver coragem para limpar esta porcaria de cima a baixo e correr com a escumalha que mina a paz e a credibilidade, o futebol português não passará dum esterco, duma pocilga em que o resultado dentro do campo é aquilo que menos interessa.

Desde ontem à noite, após mais um desolador empate do Benfica e depois do apedrejamento do autocarro, já encontrei várias reacções semelhantes à minha – eu que sou sócio do Benfica desde 1977 e frequento o Estádio da Luz desde 1973!

Que bem que se estava sem o raio do futebol! Que saudades que eu não tinha deste lodo!

Kroniketas, sempre kontra as tretas


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