Burricadas



Chegou com alarde aos jornais na semana que passou mais um episódio “magalhanesco”: depois de abrilhantar o carnaval de Torres com um folhetim porno-chanchada, eis que irrompe agora na área da língua o que, diga-se de passagem, até poderia estar relacionado com o episódio anterior. Mas não tomemos esses caminhos de má-língua* e expliquemos o que se passou aos mais distraídos.
Ao que parece fruto da livre iniciativa anarco-gregária tão do agrado da comunidade do chamado software livre**, as instruções de algum do software didáctico presente na versão Linux do computador Magalhães estão pejadas de erros de português dos mais básicos aos mais chocantes.
Dos “vês” substituindo “vez” aos “encontras-te” em vez de “encontraste”, das traduções arrevesadas aos erros mais canhestros de sintaxe, essas instruções são muito esclarecedoras de como se pode assassinar o português com requintes de crueldade (embora involuntária).
Este facto nada teria a ver com “guerras” entre software (no melhor pano cai a nódoa) se não fosse a desculpa esfarrapada alvitrada por Paulo Trezentos da Caixa Mágica*** (distribuição portuguesa de Linux): que na Microsoft são 10 mil**** e que eles na Caixa Mágica são só 10! Além de não saber onde foi parar a sempre tão propalada comunidade que resolve todos os problemas do software livre** em menos de um nada e da comparação esconsa que mais parece uma desculpa de menino em recreio de escola primária, o branqueamento da bronca pelo lado da dificuldade cai pela raiz quando confrontado com os factos: então não é que foi uma criatura a que geralmente chamamos deputado que descobriu a algaraviada num piscar de olhos? Aliás, tais são os erros que bastava alguém, como fez o deputado, ter acedido às instruções do software em causa para verificar que as nódoas eram mais que o pano! E não, não é por o tradutor ter apenas a 4ª classe que o problema se verificou – aconteceu porque essa pessoa não conhece a língua portuguesa com um mínimo de proficiência e capacidade de escrutínio e pela incompetência de todos por quem o software passou e não detectaram o problema, incluindo os tais 10 elementos da Caixa Mágica.
Concluindo, este é mais um episódio de tuguice endémica – de quem fez o software, de quem o devia ter verificado, de quem é responsável por ele (alô, é do Ministério da Educação?) e de quem o usa como muleta (um certo senhor Sócrates, engenheiro tipo Mikau e primeiro-ministro por nossa culpa*****). Vá lá, sejam maus tugas e façam os trabalhos de casa.
Obrigado

tuguinho, cínicus magallanensis******

* - ou boa…

** - não se sabe muito bem de quê
*** - isto de chamar Caixa Mágica a um sistema operativo tem muito que se lhe diga (especialmente sobre a imaginação pobre e saloia de certos tugas)

**** - ora aqui está mais um erro – pelo que sei, no mundo todo são bastante mais que 10 mil, mas por cá andarão à volta dos 400

***** - culpa no entanto bastante atenuada quando se enumeram as alternativas…

****** - assim em latim é melhor, porque sendo língua morta é mais difícil detectar os erros
******* - se for bom observador e tiver tido paciência para ler até aqui, constatará q não existe no texto nenhuma chamada às notas com 7 asteriscos, pelo que este parágrafo não passa de uma pequena brincadeira sem muita graça.

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