ORA JÁ CÁ CANTAM TRINTA E CINCO!
É certo que temos escrito pouco por aqui. Não é por mal, mas sim porque outras solicitações se nos deparam e o tempo não chega para tudo. Mas há coisas que não se devem falhar e uma delas é o post comemorativo do 25 de Abril de 1974.
Chegados a este ponto, trinta e cinco longos anos depois dessa data, que tipo de balanço se poderá fazer? Confrontando na balança o que se conseguiu e o que falhou, onde nos encontramos afinal?
Nesta época de crise é difícil ver nuvens azuis acima de nós, e olhando para tudo o que tem acontecido nos bancos, na política, no desporto (falo do futebol, como é óbvio) e em outras áreas da sociedade, é muito fácil dizer que falhámos rotundamente.
Num tempo em que ser famoso sem mérito é profissão, em que a aparência ultrapassa a competência, em que um caso nítido de tentativa de corrupção mereceu uma multa de 5000 euros (e presumo que uma palmadinha nas costas e um “vá lá e não torne a fazer isto, ouviu?”), em que andar nas estradas é tão seguro como conduzir uma diligência no velho oeste (com a desvantagem de que no velho oeste o objectivo não era levar a diligência), em que toda a gente sabe o que se passa no futebol mas ninguém está disposto a alterar o status quo, é difícil dizer que chegámos a algo positivo.
Quando os deputados da nação são essencialmente uns saca-benesses que assinam de cruz atrás do chefe e da sua agenda, quando o primeiro-ministro acha normal ficar engenheiro quase por correspondência, quando se olha para a oposição (a que tem possibilidade de alcançar a governação) e não se vêem diferenças, quando a pobreza aumenta em vez de diminuir, realmente é de começar a ficar desesperado.
Claro que se olharmos para outras coisas, o balanço é bem mais positivo: com todos os defeitos que este regime possa ter, somos um país em que podemos ter a opinião que desejarmos (embora o Sócrates não goste muito disso), em que ninguém está acima da lei (em teoria, porque sem dinheiro estamos destinados a ser bonecos de teste de advogados oficiosos), em que podemos eleger quem quisermos para nos governar (embora a qualidade dos políticos deixe muito a desejar).
Se calhar a culpa das falhas é nossa, porque protestamos pouco, porque limitamos a nossa intervenção ao acto de votar, porque a presente noção de comunidade se fica pelas reuniões de condomínio, porque cada qual zela por si e se está a lixar para os outros.
Mas tudo isto nunca apagará a emoção daquele dia e a alegria de poder crescer livre, e de não ter sido preciso nenhum banho de sangue para o conseguir. Foi numa 5ª feira nublada e até parecia um dia triste. Não foi.
Mesmo assim, valeu a pena? Claro que valeu! Mas pode ser que esteja só a ser romântico. Acham que será preciso fazer uma nova revolução?
Chegados a este ponto, trinta e cinco longos anos depois dessa data, que tipo de balanço se poderá fazer? Confrontando na balança o que se conseguiu e o que falhou, onde nos encontramos afinal?
Nesta época de crise é difícil ver nuvens azuis acima de nós, e olhando para tudo o que tem acontecido nos bancos, na política, no desporto (falo do futebol, como é óbvio) e em outras áreas da sociedade, é muito fácil dizer que falhámos rotundamente.
Num tempo em que ser famoso sem mérito é profissão, em que a aparência ultrapassa a competência, em que um caso nítido de tentativa de corrupção mereceu uma multa de 5000 euros (e presumo que uma palmadinha nas costas e um “vá lá e não torne a fazer isto, ouviu?”), em que andar nas estradas é tão seguro como conduzir uma diligência no velho oeste (com a desvantagem de que no velho oeste o objectivo não era levar a diligência), em que toda a gente sabe o que se passa no futebol mas ninguém está disposto a alterar o status quo, é difícil dizer que chegámos a algo positivo.
Quando os deputados da nação são essencialmente uns saca-benesses que assinam de cruz atrás do chefe e da sua agenda, quando o primeiro-ministro acha normal ficar engenheiro quase por correspondência, quando se olha para a oposição (a que tem possibilidade de alcançar a governação) e não se vêem diferenças, quando a pobreza aumenta em vez de diminuir, realmente é de começar a ficar desesperado.
Claro que se olharmos para outras coisas, o balanço é bem mais positivo: com todos os defeitos que este regime possa ter, somos um país em que podemos ter a opinião que desejarmos (embora o Sócrates não goste muito disso), em que ninguém está acima da lei (em teoria, porque sem dinheiro estamos destinados a ser bonecos de teste de advogados oficiosos), em que podemos eleger quem quisermos para nos governar (embora a qualidade dos políticos deixe muito a desejar).
Se calhar a culpa das falhas é nossa, porque protestamos pouco, porque limitamos a nossa intervenção ao acto de votar, porque a presente noção de comunidade se fica pelas reuniões de condomínio, porque cada qual zela por si e se está a lixar para os outros.
Mas tudo isto nunca apagará a emoção daquele dia e a alegria de poder crescer livre, e de não ter sido preciso nenhum banho de sangue para o conseguir. Foi numa 5ª feira nublada e até parecia um dia triste. Não foi.
Mesmo assim, valeu a pena? Claro que valeu! Mas pode ser que esteja só a ser romântico. Acham que será preciso fazer uma nova revolução?
escrito por tuguinho, cínico avermelhado (e subscrito pelo Kroniketas, sempre kontra as tretas!)
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