Ladrando à Lua (8) – O Patriota

Tem sido recorrente ao longo dos nossos 800 anos de história o aparecimento de profetas da desgraça, que ora nos ungem dos mais reles vitupérios como povo, ora nos tentam fundir com os vizinhos, quando não as duas coisas (uma leva geralmente à outra). Porque os do lado é que sabem, porque eles é que são bons, porque nós não temos futuro como país, etc. É bem verdade que somos uns bandalhos e nos refugiamos no improviso para remendar as situações do nosso viver, mas já o somos há muitos séculos e, mal ou bem, por cá continuamos! Também é verdade que o sonho do nosso pequeno empresário é esmifrar os desgraçados que emprega para poder comprar um Ferrari e no fim fugir com as máquinas da fábrica não se sabe para onde. É verdade que temos um governo de songas-mongas que nos está a levar para trás em vez de irmos para a frente (ao menos com o Guterres não íamos a lugar nenhum!). E sendo tudo isto verdade, também o é o facto de, muito de vez em quando, fazermos umas coisas de jeito.
Vem tudo isto a propósito de uma entrevista do sr. Mello, com dois éles, ao Expresso, em que expressa (ena, esta é boa!) a douta opinião de que nos devíamos rapidamente suicidar como país e fundirmo-nos (anexarmo-nos, melhor dizendo) com a Espanha. Porque, diz ele, não temos futuro e mais vale entregarmos o cachaço ao carrasco agora do que sermos decapitados à força pelos castelhanos. Pois é, sr. Mello (com dois éles), é que agora não existem leis de condicionamento industrial nem normas proteccionistas como aquelas de que beneficiou durante tanto tempo… outros regimes, não era? Agora é preciso ser competitivo, não basta ser amigo do presidente do conselho…
Mas, surpresa das surpresas, o tal vil badameco que nas mãos do sr. Mello, com dois éles, não é produtivo e vai acabar como criado de mesa (desculpem-me os ditos cujos pela citação, mas o aviltamento desta profissão foi ele que a fez, não eu), até funciona bem numa AutoEuropa e em meia dúzia de outras empresas em que a operação é liderada por estrangeiros responsáveis! Qual é a diferença entre estas e as outras, portuguesinhas de gema, em que trabalham os tais candidatos a criados de mesa? Acertaram! As administrações são portuguesas! Pois é – com honrosas excepções, a lógica de mercearia de bairro e a mesquinhez do agiota perduram nas meninges dos nossos “empresários”, mas é mais fácil culpar o povinho (os que vão ser criados de mesa na distopia do sr. Mello, com dois éles) pela desgraça.
Sr. Mello, com dois éles, já que pensa que será assim bom, porque não se vai você fundir?

tuguinho, cínico encartado (e português!)

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